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“Desenvolvimento em São Luís é sinônimo de morte”

Da Agência Tambor
Por Paulo Vinicius Coelho*
07/08/2021

O município de São Luís vive um conflito de interesses entre uma cidade pensada para o mercado, e uma cidade que deveria ser para todos, do bem-estar comum.

A contradição apontada por Luiz Eduardo Neves, geógrafo e professor da UFMA, perpassa o seu livro ‘’O Urbano Ludovicense’’, que foi lançado na última quinta-feira (5/8), na livraria AMEI, no Shopping São Luís.

Na última quarta-feira (4/8), o lançamento da obra e o desenvolvimento de São Luís foram as pautas do Jornal Tambor.

VEJA ABAIXO A ENTREVISTA.

O Urbano Ludovicense’’ é uma coletânea de 20 artigos e ensaios publicados por Luiz Eduardo nos últimos 10 anos. Além de refletir sobre a verticalização, o planejamento urbano, os problemas ambientais e a desigualdade da capital maranhense, a obra pontua temas como o governo Bolsonaro, o racismo e a pandemia.

Durante a entrevista, Luiz Eduardo esclareceu que São Luís sempre foi uma cidade planejada para os ricos. O conluio entre o poder público, os industriais e o mercado imobiliário pauta até hoje o desenvolvimento da cidade, resultando num aprofundamento das desigualdades socioespaciais.

‘’Desenvolvimento’’, aliás, é uma palavra fundamental para compreender o passado e o futuro de São Luís. A palavra aparece 89 vezes na proposta de revisão do Plano Diretor.

O professor entende que ‘’a razão de ser’’ do Plano Diretor é a instalação do Porto São Luís. Ele explica que a cidade é um território ‘’muito importante para os objetivos do capital internacional porque é uma grande área para o escoamento de commodities, como grãos e minério de ferro’’ e enfatiza que ‘’o desenvolvimento proposto pela elite local é um projeto de morte’’

No entanto, Luiz Eduardo ressaltou que tão importante quanto discutir a legislação, inclusive o Plano Diretor, é cobrar que os direitos já conquistados sejam efetivados.

O professor afirma que os espaços que deveriam ser protegidos ‘’são jogados aos interesses mobiliários ou a ocupação desordenada’’ e reforçou que os problemas ambientais da zona rural não são devidamente abordados ‘’porque a elite e a classe média acham que isso não tem nada a ver com eles’’

Sob a pressão da FIEMA, que tem atuado como porta-voz da revisão do Plano Diretor, a ‘’Câmara Municipal parece mais preocupada com os interesses dos seus nichos eleitorais do que com as questões amplas e essenciais para a cidade’’ declarou Luiz.

Entre essas questões, a água. O professor informa que o Rio Itapecuru, que abastece boa parte da cidade, está degradado. Os quase 300 poços que auxiliam o abastecimento dependem da recarga dos aquíferos e das chuvas. Portanto, também estão ameaçados.

O professor destacou que o planejamento urbano-territorial da cidade é ‘’muito fragmentado’’ e cobrou ‘’a unificação de várias secretarias com um único sistema que possa discutir problemas essenciais como a água, a infraestrutura para as periferias e a utilização dos espaços públicos’’.

Um outro desafio é ‘’fazer com que a população desperte de um certo sono para os problemas da cidade’’. Luiz também cobrou uma autocritica das universidades e dos intelectuais e afirmou que ‘’os professores precisam sair da sala de aula e ir pro front conhecer as periferias’’

Diante da necessidade da população reagir contra as ameaças impostas pelo Plano Diretor, Luiz finalizou afirmando que a mobilização ‘’passa por uma mudança de mentalidade sobre o que é ter direito e acesso à cidade’’.

*Com edição de Emilio Azevedo

Em nosso canal no YouTube, você pode assistir a edição completa do Jornal Tambor, com a entrevista do professor Luiz Eduardo Neves. 

https://youtube.com/channel/UCSU9LRdyoH4D3uH2cL8dBuQ

Na plataforma Spotify, você pode ouvir toda a entrevista que o professor Luiz Eduardo Neves concedeu ao Jornal Tambor.

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