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A vulnerabilidade indígena a mercê das prioridades do Governo

Por: Kunã Yporã*

Foto: Reprodução

 

Diante da Pandemia COVID19, os povos indígenas foram e são um dos segmentos mais expostos por justamente estarem mais vulneráveis. E o que vemos diante de todos esses extermínios é um cerco político negacionista

A Constituição Federal de 1.988, ao instituir o reconhecimento dos direitos às diferenças culturais, econômicas, sociais, políticas e religiosas inaugura um novo patamar de interações entre Estado brasileiro e as diversidades étnicas.

Consequências desse marco constitucional são o crescimento do associativismo indígena e o desenvolvimento de políticas sociais voltadas para o atendimento específico e diferenciado a esses povos.

O campo da saúde pode ser citado como exemplo das políticas sociais. O Subsistema de Saúde Indígena, encarregado de prover, através dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI), um conjunto de ações básicas de saúde para as diversas etnias, distribuídas em todo o território nacional.

A população indígena vem de um longo histórico de doenças trazidas por brancos, onde se perpetuam até nos dias atuais. Já sofreram massacres epidêmicos onde diversos povos e culturas foram dizimados.

Diante da Pandemia COVID19, os povos indígenas foram e são um dos segmentos mais expostos por justamente estarem mais vulneráveis. E o que vemos diante de todos esses extermínios é um cerco político negacionista.

Uma política aplicada por um governo totalmente despreparado que vem contribuindo de maneira direta para mais etnocídios. Criando um Plano de Vacinação, onde indiretamente “prioriza” e diretamente exclui.

Esse plano nacional de imunização exclui mais da metade dos indígenas do Brasil. Menos de 45% da população indígena está citada nesse grupo prioritário para receberem a vacina contra o Coronavírus.

Lembrando também que a grande maioria da população atendida pelo Subsistema de Saúde Indígena vive em terras homologadas, ou seja, demarcadas.

A omissão do governo ao não adotar medidas de proteção que realmente atendam as demandas, está claramente baseada no racismo institucional, que não deixa dúvidas alguma sobre a sua política genocida e etnocida.

A pandemia evidenciou mais ainda a população indígena que não é assistida por esse subsistema, trazendo a tona uma problemática que sempre existiu.

E são justamente esses povos que não vivem em terras homologadas, aldeados e em contexto urbano que foram excluídos pelo governo. A partir daí podemos afirmar que há um grande número de indígenas que não fazem parte desse grupo e consequentemente não terão acesso ao imunizante.

O fato de um indígena não viver aldeado, não ter seu território demarcado, viver nas grandes cidades e assim sucessivamente, não quer dizer que ele(a) perca a sua identidade.

Nossas raízes são indígenas em todo o lugar, pois são únicas e autênticas dessa nação e nossa identidade nos dá o direito e o reconhecimento através da nossa essência.

Apesar das aparentes diferenças entre os grupos que vivem no Brasil, ainda somos um só povo unido por um único DNA.

E mesmo depois de todos os grupos estrangeiros terem invadido o nosso território desde 1500, jamais esqueceremos nossos ancestrais, pois é essa essência impregnada nas nossas veias que garante os nossos direitos de nos denominarmos brasileiros, sem eles, seríamos de fato apenas estrangeiros, invasores nesse imenso território chamado Brasil.

* Indígena Tremembé, educadora popular, articuladora de povos originários e integrante da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas.

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